14.7.06

As Pedras Encantadas de José Cláudio

São mais de 50 anos dedicados à arte. Pintor, desenhista, gravador, escultor, crítico de arte e escritor, José Cláudio da Silva é este personagem que não pára. Entre as suas diversas atividades, continua pintando - pássaros, de preferência -, desenhando, desenhando e, atualmente, um novo trabalho mobiliza grande parte de sua energia criativa: um conjunto de esculturas em pedras destinado ao projeto Santuário dos Três Reinos, situado na cidade do Cabo de Santo Agostinho.

Estas obras estão sendo executadas numa pedreira em Fazenda Nova, no município de Brejo da Madre de Deus, a 45 km de Caruaru. Situação que alterou a rotina do artista José Cláudio. No momento sua vida é assim: todas as quintas-feiras é dia de ver as obras, orientar os canteiros (mestres das pedreiras), escolher novas pedras para serem lapidadas. No local, dezenas de operários trabalham sob uma sinfonia de TLAC! TLAC! TLAC! produzida pelos instrumentos no contato com a pedra: ponteiros e martelos. José Cláudio passeia no meio dessa sinfonia e vai marcando as pedras com um pedaço de carvão, risca uma mulher deitada de braços abertos aqui, numa outra ali, diz que deve surgir a figura de um sapo. Este é o seu processo de intervenção nas rijas rochas de granito. Experimentando a idéia de transformar um arsenal bruto em cenas regionais, elementos da natureza e da paisagem local.

Muito à vontade no atelier improvisado, o autor descreve com emoção como começou esse novo trabalho. “Eu estava em casa num sábado de carnaval e Roberto Viana, empresário e amigo, me liga da Bahia, e pensei na hora que ele podia me ajudar num assunto que estava me preocupando - é que no mesmo dia, eu tinha recebido uma notícia de que tinha que tirar umas esculturas minhas de um terreno que ia ser vendido. O detalhe é que essas esculturas eram de pedra e em escalas enormes. Fiquei com vergonha de importuná-lo com essa história. Mas, do outro lado ele também tinha um assunto a tratar. Ele me disse que havia adquirido um terreno, e que nele havia uns claros. Queria colocar ali umas esculturas de pedra. Eu comecei a rir, mas rapaz, o assunto que eu tinha pra falar era justamente sobre isso”.

Assim começou o projeto que já tem mais de três anos, e que ficou um tempo parado, por falta de recursos. Agora com apoio da Unesco, as obras voltaram a ser executadas.

José Cláudio lembra que já estivera na mesma região décadas atrás, entre fins de 60 e início dos anos 70, durante a construção das muralhas de Fazenda Nova, para o espetáculo da Paixão de Cristo. E lá ele fez algumas esculturas em pedra, a convite de Plínio Pacheco. Foi nessa época que surgiu o parque das esculturas, sugerido pelo então ministro dos Transportes Mário Andreazza. Muitos dos cantéis (nome popular dos canteiros, em Pernambuco) da época de Plínio estão trabalhando nesse projeto atual, afirma José Cláudio, que está contente por reencontrar alguns amigos antigos.

Em meio a nossa conversa, de repente, José Cláudio pára em frente a uma pedra que repousa sob um enorme pé de juazeiro, e diz que ali sua idéia é fazer uma mulher toda arreganhada (sic), e sorri, feliz da vida. Ao ver outra pedra, diz: “escolhi essa pedra por que tem uma mancha preta, e pensei em fazer um sapo, não precisam ver, basta saberem que fiz uma intervenção na pedra”. Algumas obras demoram mais de três meses para ficarem prontas, mas isso depende do número de homens trabalhando na pedra. À medida que as esculturas vão ficando prontas vão sendo levadas para a fazenda do amigo em Cabo de Santo Agostinho, destino final das obras. Segundo o artista, mais de 20 obras já estão prontas. E a idéia do amigo empresário é de que o projeto não pare nunca, diz o artista entusiasmado. Louvado seja!

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