O que seria um simples passeio pela feira de rua, comércio ambulante tradicional ainda nas cidades interioranas, pode despertar um novo olhar sobre este espaço de trocas aparentemente simples, e destituído de maiores significados. Dizemos aparentemente simples, com larga propriedade, posto que inúmeras relações sociais se efetivam neste tipo de comércio, como veremos a seguir. Buscando descobrir a magia da Feira, pressentimos um mundo todo a se revelar. “Conhecer as imagens que nos circundam significa também alargar as possibilidades de contato com a realidade; significa ver mais e perceber mais.”, seguimos, por conseguinte, as pegadas de Bruno Munari, designer italiano.
Um mundo inteiro se abre com novas possibilidades de apreensão e reconhecimento. Observando as linhas harmônicas dos trançados de palha – em chapéus, cestos, peneiras, ou ainda, atentando para a diversidade dos mesmos objetos apresentados em materiais distintos . Natural como o encontro dos antigos e tradicionais com os novos materiais, na confecção do mesmo produto, também são as tecnologias. A exemplificar: as coleiras de animais coloridas, feitas de nylon, e as tradicionais de anéis de metal ou couro.
O visual da Feira é outro aspecto relevante. As relações volumétricas que criam formas tridimensionais como a pilha de vassouras de palha ou de barbante, arrumadas de maneira simétrica, geram inusitados objetos. Há também a transformação de uma forma em outra, percebida no uso da bandeira nacional na sandália de borracha industrializada. Novas formas vão sendo construídas de maneira harmoniosa, cheias de mensagens visuais, compondo uma estética muito agradável aos olhos.
E o que dizer das cores e de seu uso? Para um designer, as cores corretas são as próprias dos materiais com que são produzidos os objetos, e ele as opera em sintonia com a ciência e a indústria, de acordo com Munari. O mesmo é percebido no universo dos feirantes, que ao invés de científico, eles operam com o conhecimento empírico. O vermelho latente e vibrante do colorau repousado na vitrine a céu aberto, quase que impossível não ser visto, contrastando com os raios de sol. Vendo-se as paredes de barracas, de colchas de retalhos de tecido, percebe-se que não há uma seleção simétrica de cor e padrão, porém que resultado primoroso.
E que exemplo mais exímio do que a seção de ervas - farmácia popular – e especiarias. As latas de alumínio que já guardaram leite em pó agora servem de suporte para a canela em bastão, pedras de enxofre, anis estrelado, tudo perfeitamente adequado. A disposição é no chão mesmo, protegido apenas pelo plástico preto, que contrasta com o prateado do alumínio.
A feira é esse universo mágico, democrático e contemporâneo. Mistura de formas, cores, materiais. Regido por sua gente e sua sabedoria.
Luana E.G. Esmeraldo Barros
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