28.2.07

O Universo da Feira de Belo Jardim

Imagine-se sendo acordado às quatro horas da manhã com o tilintar de barras de ferro, vozes, barulho de carro e ao sair de casa deparar-se com dezenas de barracas na calçada, a menos de um metro da sua porta de entrada. Essa situação é vivida pelos moradores do centro da cidade de Belo Jardim, duas vezes por semana, nas feiras de segunda e sexta.

Segundo dados históricos do município de Belo Jardim, a cidade surgiu a partir de uma fazenda, que progrediu e com a chegada de novos moradores uma feira livre foi instalada no local, por volta de 1854. Aos poucos, um povoado, denominado Capim, foi se formando em torno da feira até constituir-se como cidade, hoje com população em torno de 70 mil habitantes. Pode-se concluir que a cidade é fruto dessa feira.

Os principais motivos de descontentamento dos residentes do centro em relação à feira são: barulho, sujeira, mau cheiro e o impedimento do tráfego de veículos nas ruas ocupadas. Para a aposentada Conceição Lima, 65 anos, o lado bom de ter a feira à sua porta é a facilidade para fazer compras. Já o lado ruim é ter de agüentar o barulho da montagem das barracas, segundo a moradora que convive com a situação há mais de 30 anos, embora no passado a situação fosse diferente, pois os feirantes colocavam as mercadorias em cima de lonas sobre o chão. Ela diz que em geral os bancos começam a ser montados por volta das três ou quatro da manhã e, dependendo do dia, só são desmontados às três da tarde. A sujeira e mau cheiro não afetam dona Conceição, afinal na rua onde mora, os feirantes vendem apenas roupas.

Já Cláudia Siqueira, 31 anos, mora no centro desde que nasceu e disse que não se acostuma com a feira à sua porta. Afirma que a feira interfere negativamente na estética da cidade.

Mas para Geruza da Silva, 47 anos, costureira, a situação é mais incômoda. Ela diz que a rua onde mora fica muito suja no fim do dia, restos de frutas, legumes, ambiente propício para o aparecimento de baratas e ratos. Ela reclama ainda que muitas vezes os garis demoram a limpar o local. Para a costureira a solução seria a transferência da feira para outro local.

Esse espaço já existe. Trata-se do Pátio da Feira. O local foi especialmente construído para a feira, e tem uma área de cinco mil metros quadrados, suficiente para abrigar todos os feirantes. De acordo com o secretário de agricultura de Belo Jardim, Juraci Vasconcelos, o pátio vai oferecer diversas vantagens como: saneamento, iluminação pública, segurança e padronização dos espaços para as barracas. Após a transferência da feira para o novo local, provavelmente em 2007, o feirante vai continuar pagando a mesma taxa que paga na rua, não mais que três reais. O secretário está otimista quanto à mudança da feira e disse ainda que há uma fila de espera, com mais de 100 pessoas, para colocar um banco no novo pátio.

Atualmente a feira ocupa uma área de cinco mil metros quadrados e tem a participação de 900 bancos, sem contar com os feirantes que expõem seus produtos no chão. Ali encontra-se de tudo, por isso é tida como uma das maiores e mais diversificadas feiras da região, segundo Maria Mororó, coordenadora da feira na cidade. Frutas e verduras cultivadas no próprio município, temperos, queijo, carnes, plantas, flores, calçados, roupas novas e usadas, tecidos, mobiliário, utensílios domésticos de plástico, metal e barro, boneca de pano e de plástico, quinquilharias em geral, o primitivo lado a lado com o moderno e o industrializado.

Porém os feirantes não estão tão animados para essa transferência. O comerciante de calçados, Pedro dos Santos, 48 anos, 22 desses dedicados à feira, acredita que sair do centro não vai ser bom para ninguém. O feirante disse saber do descontentamento de alguns moradores do centro, mas que não são todos que reclamam. Ainda sobre o novo destino da feira, ele acha o pátio afastado e tem medo de perder a clientela que já está acostumada com seu ponto, curiosamente em frente a uma sapataria. O comerciante disse ainda que os clientes preferem a feira na rua, "pois está mais perto dos bancos e comércio, dá para resolver tudo por aqui mesmo." Com seu Pedro trabalham seus dois filhos, na barraca vizinha, seu irmão José Severino vende roupas. Aos poucos ele vai enumerando todos os seus familiares que vivem do comércio na feira.

No banco da frente, seu Ivo de Oliveira, 65 anos, e há 30 vende miudezas na feira. Tem de tudo na sua barraca coberta por uma lona sob o sol do meio-dia – material escolar, aviamentos, bolsas, bonés, brinquedos etc. Mas reclama do movimento fraco e diz que se tiver de mudar não vai se opor, porém imagina que no pátio o movimento será menor e que terá dificuldades para carregar e descarregar sua mercadoria.

Apesar do descontentamento de moradores e resistência dos feirantes quanto à mudança de local, a feira livre é um universo mágico, democrático e contemporâneo. Mistura de formas, cores e materiais. Comércio ambulante tradicional ainda nas cidades interioranas, regido por sua gente e sua sabedoria. Ambiente que congrega aspectos importantes na história, cultura e economia da sociedade. O mais importante nessa discussão é ficar assegurado que a feira livre seja preservada, onde quer que ela aconteça.

6.2.07

Musa Madonna



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