29.6.06


Domingo é dia de felicidade

Domingo é dia de visita. É dia de Dona Ana colocar o seu melhor vestido e passar lavanda no corpo. Seu Aurélio faz a barba e capricha na loção. No canto da varanda uma senhora se balança na cadeira, comentam que ela é um pouco arisca, mas disfarça bem ao ver alguém se aproximando. No jardim umas quatro senhoras entoam um “bendito”, se alegram ao ver as pessoas entrando e concluem que já está na hora das visitas.

Os olhos deles brilham, sorrisos largos e uma aparente ansiedade, deve ser pela chegada dos amigos ou algum parente. Percebem logo quando chega um desconhecido, e tratam imediatamente de ficar por perto. Querem contar suas histórias e sabem que vão ter alguém para ouvi-los. No rosto de cada um várias linhas, sinais do tempo, e muita história pra contar. Os olhos de dona Mariazinha marejam, ela lembra do irmão que um dia vivera junto ali. Mas ela não chora, apenas tenta contar sua história em troca de atenção.

As visitas vão chegando com as mãos ocupadas. Logo eles desconfiam do pacote, da cesta embrulhada num papel, da sacola de supermercado, já devem imaginar o que vem ali dentro. Certamente já haviam pedido ou insinuado. Eles adoram as bolachinhas de padaria que combinam muito bem com o café. A colônia também deve estar num daqueles pacotes. São muito vaidosos e gostam de estar perfumados.

Muitos não têm mais família, outros não a vê há tempos. Família agora é o lar onde vivem. É o companheiro da cama do lado. Lá recebem o carinho dos funcionários, alguns voluntários, das enfermeiras, dos profissionais de saúde que lhes prestam atendimento semanalmente, e das visitas muitas vezes de desconhecidos. Sentem-se importantes e queridos.

Por trás das linhas marcadas no rosto de cada um há muita história vivida. O brilho do olhar não representa mais o viço da juventude, mas ainda brilha para os amigos e desconhecidos que os visitam. Alegria é receber atenção, carinho, um sorriso. Para esses idosos o contentamento se completa nas coisas mais simples, basta sentirem-se amados, ouvidos e visitados.

Felicidade é o que muitos dos idosos do Lar Bezerra de Menezes sentem.



Luana E. G. Esmeraldo Barros

2 comentários:

Mariana Mesquita disse...

Luana! Seu blog é muito bonitinho e eu vou visitá-lo mais vezes... Adorei a foto das velhinhas. Beijo!

Luana disse...

:)
Obrigada, Mariana!
Prometo atualizá-lo para suas próximas visitas!

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